Acabei de dar uma resposta horrível para alguém. Ela pedia que eu colocasse descrições nos desenhos que publico na internet. Eu respondi que não faço isso, por postar a toque de caixa, vários desenhos diariamente, as vezes muitos de uma vez. E que fazia isso por ser o que o capitalismo pede. Otimização do trabalho, postar muito e postar rápido. Sem isso não sou visto na internet, e não sobrevivo fazendo o que faço, pois dependo disso.
É algo horrível pensar assim. Mas não tenho escolha quando preciso me alimentar, pagar contas, e o desespero por conseguir números, que raramente se convertem em dinheiro, esteja em primeiro lugar do que a acessibilidade. Se desacelero minha produção, que é meu trabalho, eu não sobrevivo, e não consigo fazer mais nada. Então ou é morrer, ou produzir muito. Isso traduz muito de como é sobreviver no capitalismo. Por sorte ainda, gosto de desenhar, e desenho muito, naturalmente. Mas não o tanto que vocês acham que desenho. Eu posto muito, por essa razão que mencionei, mas também por fazer muito repost, muita reciclagem. Se eu postasse só o que saísse de coisa inédita, não daria pra ter a frequência de publicações que mantenho, assim diariamente.
Essa é uma armadilha que muita gente cai, e acaba tendo uma produção engessada, de desenho sem graça, muitas vezes guiado pelas tendências do momento, só pra preencher o necessario e poder se manter trabalhando. Eu ainda consigo fazer da forma que quero, só o que eu quero, sem me render a tendencias nem me forçar a nada, além das encomendas que surgem. Isso consegue deixar minha arte autêntica ainda. Mas quem não desenha muito o tempo todo, como eu, acaba tendo que fazer uma arte automatizada e ruim. E aocntece que as vezes passo um tempo sem conseguir fazer nada. Por exaustão, depressão, saúde, cansaço. E fico me sentindo mal e culpado por isso.
Nada do que escrevi acima é um manual, uma dica, uma recomendação. PELO CONTRÁRIO. Isso é mais um pedido de socorro. Eu não gostaria de produzir assim. Num mundo ideal, meus desenhos surgindo rápido ou não, eu gostaria de trata-los com mais carinho e calma, descrever todos, postar quando estiverem prontos, não republicar tanto, NÃO DEPENDER DE REDES SOCIAIS, e não ser tão desesperado por medo de não ter dinheiro e sobreviver.
Mas até lá, o capitalismo me escraviza.
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