Se tu acompanha outras newsletters por aqui, já deve ter lido algum texto sobre deixar as redes sociais. Desde que comecei o Boletim 137, já indiquei alguns. A conversa sempre passa pela toxicidade das redes, seratonina, reprodutibilidade técnica, sociedade do cansasso. O questão é, o papo não é novo, e a gente já sabe que o tempo de tela, que as redes, não fazem bem pra nossa cabecinha.
É bom ter uma plataforma onde a gente encontra todo mundo. De gente conhecida, familia, amigos, colegas, até gente famosa, ídolos, empresas, políticos, governos. Lembro quando o Twitter surgiu com essa ilusão de que a gente podia estar perto de todos eles. Antes disso a gente tinha que acompanhar pessoas famosas e instituições por seus sites individuais, blogs especializados ou jornais.
Mas o que era uma solução logo se tornou um pesadelo. Ao centralizar tudo nas redes sociais, contatos, serviços, trabalho, etc, ficamos totalmente dependente delas, como se toda a internet fosse as redes sociais. A gente ainda pesquisa coisas no Google, mas todo nosso tempo na internet vai pra alguma rede social, pois é onde tem tudo, vídeo, imagem, texto. E as bigtecs foram muito bem sucedidas em prender a gente lá. Quando o simples “postar pra divulgar” começou a exigir formas específicas de se portar, e coisas exatas pra se fazer, pra poder ter alcance, o jogo já tinha virado a muito tempo. Em vez de ser um serviço que a gente utiliza, as redes é que passaram a controlar o que e como a gente deve usar ela. E o Instagram é o símbolo maior disso.
Não vou me aprofundar mais nisso, pois como já falei, tu já deve ter lido textos falando mal das redes. Só queria reafirmar que tudo já tava uma merda antes. E antes do que? Mas é claro que das I.A.s generativas. É do que eu mais reclamo atualmente.
Pra quem é artista, ou faz qualquer coisa que depende de divulgação e visibilidade de um público, é obrigatório estar nas redes sociais, mais especificamente o Instagram. Se tu não tá no Instagram, é como se você não existisse na internet. E isso é bizarro, mas é o que eu falei, a rede se tornou a internet inteira para o usuário. A gente pode achar que não é obrigade a nada, mas é. Se tu não usa Instagram, não tem público, não tem um grupo social de amigos, talvez não tenha trabalho. E mesmo que fora do Instagram tu tenha tudo isso, a rede te faz achar que não. Tu é obrigade de um jeito ou de outro, e eu tava nessa. Já odiava Instagram e Twitter nos últimos tempos, mas continuava usando por ter essa ilusão.
A rede social Bluesky, criada por um dos antigos donos do Twitter, surgiu como uma boa alternativa. Mas se o povo não migra pra outro lugar, como eu, que dependo do público, posso migrar? Até que o milagre divino aconteceu, e o Twitter, agora X, foi bloqueado no Brasil (longa história que vocês já sabem). Com isso, uma comunidade pode se formar no Bluesky. De início não vingou muito, geral voltou pro X com a liberação dele. Mas então seu dono, Elon Musk, decidiu que tudo o que for postado lá, será usado para treinar sua inteligência artificial generativa. E foi então que muitos artistas migraram de vez pro Bluesky, e temos a rede como está atualmente.
O Bluesky não tem I.A., não tem propaganda, algoritmo aleatório, nem entrega seletiva. Tudo o que tu posta lá. quem te segue de fato vê. Diferente do Instagram. Até o momento (tudo pode mudar no futuro), o Céu Azul tem sido uma rede maravilhosa. Consegui um engajamento bom, muito mais seguidores em poucos meses, do que tive no Instagram, e principalmente no Twitter em anos, minhas vendas de camisa e encomendas vinham de lá. E mesmo assim, eu me sentia preso ao Instagram, a essa centralização que ele criou. Eu estava preso ao lema do Mark Zuckerberg (dono da META, empresa do Instagram, Wathsapp, Facebook, e Threads), mesmo o odiando.
![]() |
Em setembro de 2024, o Zuckerberg usou uma camisa com a frase, em latim, “ou um Zuck ou nada”, uma referência à frase do império romano “ou um César ou nada”. |
Até que a I.A. generativa chegou a META. Primeiro pelo Wathsapp, e agora no Instagram. Tudo o que eu havia falado sobre estar preso ao Instagram, se multiplica muito no Whatsapp (que a partir de agora chamarei de Zap). É quase impossível um brasileiro médio que trabalha, estuda, se comunica com familia, amigos, colegas, não precisar usar o Zap. E isso também se aplica a mim. Faz um tempo que tenho pensado em como me livrar dele, mas se eu não tenho zap, não tenho mais contato nem com a sorveteira e a pizzaria do bairro. Não existe resposta fácil. Opções existem, mas não dá pra todo mundo migrar. Minha principal opção ao Zap, é o Telegram. Muito uso e fala pra todo mundo o tempo todo que é melhor que o Zap. E agora o Elon Musk assinou um acordo para por sua I.A. lá também.

Fiquei muito mal pensando sobre isso tudo. As pessoas com quem converso na internet parecem muito conformistas. Tipo, “não tem o que se fazer, eu vou pra onde? Preciso estar na internet”. Mas são esses pensamentos conformistas que fazem as empresas se aproveitar do sentimento geral e multiplicar suas raízes nas necessidades coletivas. Seria mais fácil eu pensar assim e só aceitar. Infelizmente me importo com isso, pois sei que não precisa ser assim. Repetindo denovo, a internet não são as redes sociais, E OUTRA, não existem só essas redes sociais mais usadas. Tem pra onde ir, tem o que se fazer. As pessoas só não querem.
Mas sendo um peixe que anda, não preciso seguir a correnteza, eu posso correr contra ela, na direção que eu quiser. Mesmo com medo do amanhã. com pânico de ficar sem recurso, com o capitalismo me destruindo. Se a gente se conforma, nada muda. Então vou sair do Instagram.
Esse texto é grande e explicativo, pois, apesar de atualmente o Bluesky ser a rede com meu melhor engajamento e público, é no Instagram que tenho mais seguidores e onde a maioria das pessoas me conheceram e me acompanharam. Mas se a gente não muda, o mundo não gira. Principalmente por um motivo tão importante. Se antes era necessidade de saúde mental e posição política, agora é mais ainda. Irá demorar para eu conseguir deletar meu Instagram e Whatsapp, pois como mencionei, muitos contatos e coisas que só tem lá. Mas até eu poder deletar essas contas, não colocarei nenhuma imagem, e usarei o mínimo possível. Pois usar essas redes, é alimentar sua Inteligência Artificial generativa, que é algo que eu e outros artistas não conformados lutamos muito contra.
![]() |
Se tu ainda não acredita, aqui estão os chatbots que já começaram a chegar em alguns perfis. |
Eu te entendo se não puder fazer o mesmo. Estou recomendando sair das redes da META, ao mesmo tempo que afirmo as dificuldade que tenho para com isso. Até nossos contatos importantes migrarem para outras redes, vamos depender da META para contata-los. Muitos artistas ainda dependem exclusivamente do Instagram para conseguir trabalho, e eu entendo, não vou condenar, pelo contrário. Mas peço que pensem a respeito de tudo isso, pois é muito urgente. Tudo o que é seu postado na META, já está sendo usado para treinar I.A. Sua arte está sendo roubada e usada pra cometer crimes, fazer guerras, criar pornografia infantil, destruir vidas.
Não esperem um movimento de grandes influenciadores para migrar uma manada pra outra rede. Seus passos só podem ser dados por você mesmo. Se tu tem ideais, tu é a única pessoa que pode defende-los. E ficar esperando alguém ou algo, pra te fazer seguir esse ideal, talvez alerte que tu não acredita nele tanto assim. Se deixar levar pelo medo, é aceitar coisas que podem te prejudicar, prejudicar os seus, toda a humanidade, e toda a natureza do planeta Terra. O futuro não está em nenhuma tecnologia, ele está na sua atitude.
![]() |
CEO do Bluesky, Jay Graber, usando uma camisa escrito em latim “Um mundo sem Césares” |
Por Magdiel em 31/05/2025

Magdiel é um artista de Recife, fundador do coletivo 137 Cultural, e colaborador de diversos outros projetos envolvendo arte e cultura independente. É mais conhecido por seus cartoons humorísticos publicados na internet, e pela difusão do movimento “arte tronxa”.
Magdiel desenha, escreve, edita, e faz coisas na internet desde 2010, embora faça arte desde que nasceu.
Essa publicação é um trabalho independente. Você pode ajudar compartilhando, ou até financeiramente se quiser.
No link acima tem todas as minhas redes sociais, contatos, lojas de produtos, apoia.se, pix, wishtlist e tudo mais.
Nenhum comentário:
Postar um comentário