Margaret Atwood é uma escritora canadense de 84 anos. A autora é famosa por sua obra O Conto da Aia, dentre outros livros cultuados no mundo inteiro.
Ah, e ela também é um peixe com pernas:

Esse desenho foi feito pela própria Margaret, para uma coleção do intelectual Burt Britton. Se trata de uma série de auto-retratos de vários escritores, realizados durante os anos 60 e 70.
Esses desenhos foram compilados no livro Self-Portrait Book People Picture Themselves, de 1976. É muito raro de ser encontrado, mas upei um PDF no Telegram caso queira conferir: https://t.me/camelodromoblog/1735.
O livro tem desenhos muito legais, inusitados e curiosos de vários autores famosos (posso falar sobre ele em outro momento). É interessante ver como se imaginam, e obviamente o da Margaret me chamou mais atenção.

Vale ressaltar que ela também fez uma boneca recortável de si mesma, porém é aquele primeiro desenho que representa seu “auto-retrato”, sua visão de quem ela é.
Tá, mas por que um peixe com pernas? Quanto a Margaret eu não sei. A autora ainda é viva e eu gostaria muito de perguntar, embora eu não soubesse como (deixei mensagem no Bluesky). Quanto a mim, muita gente pergunta, mas não sei o motivo exato, porém existem possíveis explicações.
Assim como gênero e sexualidade, que você acha que é uma coisa e depois se descobre outra, ser um peixe foi algo que me descobri até antes de minha pansexualidade e não-binariedade. Em meados de 2016 (acho), desenhando aleatoriamente sem pensar em nada, sem intenção nenhuma, fiz este desenho:

De imediato, soube que era eu. Antes disso nunca havia tido relação profunda com peixes ou criaturas aquaticas. Acho o oceano lindo e fascinante desde sempre, já era fã de personagens peixes, mas nada muito além disso. Porém esse peixe com pernas me foi apresentado como um reflexo. E isso tem uma razão. A imagem me remeteu a famosa analogia do “peixe fora d’água”, que é usada para exemplificar quando você é diferente, ou não se encaixa em algum lugar que se está inserido. Então olhei pro peixe e vi nele o meu sentimento de “deslocamento”, de parecer não me encaixar em qualquer lugar que eu esteja, dessa eterna busca por pertencimento. Um peixe que não sabe nadar, não sabe viver no mar, cria pernas pra viver na terra, mas lida com as dificuldades de andar onde nunca foi seu lugar.

Bem, ao pensar tudo isso e ter amado minha criação repentina, publiquei o desenho e usei de foto de perfil. Mas ainda não havia intenções de se tornar uma marca, um retrato meu, que costumava usar auto-retratos de imagem de perfil. Ainda me considerava um humano (pior, um homém, embora tivesse minhas dúvidas), que usava como ícone um desenho pelo qual me sentia representado. Mas ainda era o Magdiel, apenas o cara que desenhava no Paint (nessa época eu só desenhava usando Microsoft Paint). Até que as pessoas começaram a me associar ao peixe, e me chamar de “peixe com pernas”. E foi assim que aceitei e me apeguei a essa identidade.
E foi assim que surgiu. De tempos em tempos fui atualizando a imagem, fazendo tirinhas, transformando em personagem.

Por conta disso, desenvolvi a ideia de que todo mundo tem uma forma não-humana. E não precisa ser animal, pode ser objeto, comida, qualquer coisa. Costumo perguntar as pessoas “qual tua forma não-humana”? Alguns tentam escolher, pensar num animal que gostam, numa figura que acham bonita. Mas explico que não pode ser algo que você escolha, ou que simplesmente ache legal. Tem que ser algo que venha até você, ou que sempre esteve lá, que surja e te dê o estalo que te representa. E principalmente, que você aceite (já que existe a possibilidade de nos atriburem algo que não gostamos).
Por exemplo, se eu pudesse escolher, seria um gato, pois acho lindo e admiro o estilo de vida deles. Mas é algo que admiro, e não o que sou. Meu pai é encantado com trigres e também gostaria de ser um, mas entendeu quando eu disse que faz mais sentido ele ser um peixe de água salgada, pela sua forte atração com o mar.
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| Eu e minha companheira Raquel Ramos (me carregando). Feitos pela atesã Aralim |
A artista Raquel Ramos (minha companheira), se identifica como um porquinho desde criança. E isso surgiu por inicialmente ter um porquinho de pelúcia que amava, ir atrás de outro e sua mãe começar a lhe presentear com mais porquinhos (até virar uma coleação).
A também artista (e minha amiga) Laura Tomate, se identificava como um Minion por amar esse personagens amarelos dos filmes Meu Malvado Favorito. Mas recentemente se descobriu como um Tomate. Antes disso ela se chamava apenas “Laura”.

Enfim, adoro ver e saber das formas não-humanas das pessoas, e fico muito feliz que nessa trajeitória, encontrei outros artistas peixes no caminho!
Talvez o artista mais conhecido que se identifica como um peixe, seja o mangaka Eiichiro Oda, criador de One Piece. Mas além dele e da Margaret Atwood, existem vários artistas peixinhos que fico muito feliz em chamar de amigos. Fiz uma lista no Bluesky com todos os que estão lá: https://bsky.app/starter-pack/137magdiel.bsky.social/3l4s3ohdt6j2v
Me pergunto se o Jorge dü Peixe, vocalista da Nação Zumbi, também se acha um peixe, já que o Chico Science era um Carangueijo, e o baixista da banda se chama Dengue (talvez um mosquito).
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| Eiichiro Oda por ele mesmo. |
Por fim, fica a pergunta, qual sua forma não humana?
PS. Falando em Raquel Ramos e Margaret Atwood, olha esse desenho incrível que Raquel fez da Margaret:

Por Magdiel em 26/09/2024

Magdiel é um artista de Recife, fundador do coletivo 137 Cultural, e colaborador de diversos outros projetos envolvendo arte e cultura independente. É mais conhecido por seus cartoons humorísticos publicados na internet, e pela difusão do movimento “arte tronxa”.
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